Cabo submarino transatlântico sofre deslizamento sob forte corrente de turbidez, dificultando conserto no fundo do mar.
Em 18 de novembro de 1929, uma tremenda energia foi liberada na costa da Península de Burin, no Canadá, causando um terremoto de magnitude 7,2. Nessa noite, o oceano começou a mudar, como se uma força invisível estivesse ao trabalho. Muitos moradores, ainda em choque com a magnitude do evento, logo perceberam que os danos, embora inesperados, não eram extensos em todo o local. A principal preocupação, no entanto, não era apenas o terremoto, mas sim os efeitos devastadores que o internet não estava preparado para lidar.
Os relatos de tsunami começaram a chegar, e logo ficou claro que a gravidade da situação era muito maior do que qualquer um poderia imaginar. A costa da Península de Burin estava sendo atingida por ondas gigantes, causando destruição em tudo o que se encontrava no seu caminho. Ao mesmo tempo, milhares de pessoas estavam em perigo, sem acesso a serviços de emergência adequados. Nesse momento crítico, a comunicação era fundamental para salvar vidas. Infelizmente, naquela época, o internet não era uma ferramenta disponível para a maioria da população. E mesmo que estivesse, não poderia ter sido utilizada de forma eficaz para coordenar o socorro, pois o seu desenvolvimento ainda estava em desenvolvimento. A falta de acesso à informação e aos recursos necessários para lidar com a situação limitava drasticamente as opções de ação.
Desastres Naturais e o Fio da Navalha da Internet
O ano de 1929 foi marcado por um evento catastrófico que atingiu a costa da Península de Burin, na Terra Nova, Canadá, quando um tsunami de 13 metros de altura devastou a região. O terremoto que desencadeou o tsunami foi tão intenso que afetou não apenas as comunidades locais, mas também o oceano. O abalo sísmico acionou um deslizamento de terra submarino, que, na época, era completamente desconhecido para os seres humanos. Os registros históricos sugerem que as pessoas não perceberam o deslizamento de terra submarino, pois não sabiam que tais eventos existiam. Quando os sedimentos são agitados por terremotos e outras atividades geológicas, a água se torna mais densa, gerando um fluxo descendente, semelhante a uma avalanche de neve em uma montanha. Esse deslizamento de terra submarino, chamado corrente de turbidez, fluiu a mais de 1.000 km de distância do epicentro do terremoto, a uma velocidade entre 11 e 128 km/h.
A corrente de turbidez deixou uma pista reveladora, pois, em sua rota, estava o que havia de mais moderno em tecnologia de comunicação da época: cabos submarinos transatlânticos. E esses cabos se romperam. Doze deles foram partidos em 28 lugares no total. Algumas das 28 rupturas aconteceram quase simultaneamente com o terremoto, mas outras 16 ocorreram ao longo de um período muito mais longo, à medida que os cabos se rompiam um após o outro, em uma espécie de padrão misterioso de ondas, de 59 minutos após o terremoto até 13 horas e 17 minutos depois, e a mais de 500 quilômetros de distância do epicentro. Se todos tivessem sido rompidos pelo terremoto em si, os cabos teriam se rompido ao mesmo tempo, então os cientistas começaram a se perguntar: por que não se romperam? Por que se romperam um após o outro?
Só em 1952 que os pesquisadores descobriram por que os cabos se romperam em sequência, ao longo de uma área tão grande e em intervalos que pareciam diminuir com a distância do epicentro. Eles descobriram que um deslizamento de terra os atingiu, e que os cabos que se rompiam traçaram seu movimento pelo fundo do mar. Até então, ninguém sabia da existência das chamadas correntes de turbidez. Como esses cabos se romperam e havia um registro do momento em que se partiram, eles ajudaram a entender os movimentos oceânicos acima e abaixo da superfície. Eles motivaram um trabalho de reparo complexo, mas também se tornaram instrumentos científicos acidentais, registrando um fenômeno natural fascinante que estava fora do alcance da vista humana.
Nas décadas seguintes, à medida que a rede global de cabos de águas profundas se expandiu, seu reparo e manutenção resultaram em outras descobertas científicas surpreendentes, abrindo mundos totalmente novos, e nos permitindo espiar o fundo do mar como nunca antes, além de nos permitir comunicar em velocidade recorde. Ao mesmo tempo, nossa vida cotidiana, rendimentos, saúde e segurança também se tornaram cada vez mais dependentes da internet, e, em última análise, desta complexa rede de cabos submarinos. Mas, afinal, o que acontece quando eles se rompem?
Fonte: © G1 – Tecnologia
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