Winta Zesu cria conteúdo negativo, patrocinado por algoritmo, que ativa do cérebro interações de ódio.
Winta Zesu é uma criadora de conteúdo que enfrenta o desafio de gerenciar as emoções dos seus seguidores, principalmente a raiva, que pode se manifestar de várias formas. Com o aumento da popularidade nas redes sociais, ela percebeu que muitos usuários são atraídos por sua abordagem direta e crítica, que às vezes causa raiva.
Para lidar com a negatividade gerada por esses comentários, Zesu desenvolveu uma estratégia de engajamento proativo, visando transformar a raiva em energia positiva. Ela incentiva os seus seguidores a compartilharem suas opiniões, mas também a se envolverem em discussões produtivas, evitando a propagação de ódio e vieses.
Conteúdo que gera ódio: o lado sombrio da internet
Zesu, uma jovem de 24 anos de Nova York, é conhecida por criar conteúdo que gera milhões de visualizações, mas com um preço: comentários de ódio. Ela explica que seu maior problema é ser ‘bonita demais’ e que as pessoas não percebem que ela está interpretando uma personagem. No entanto, essa é a intenção de Zesu: criar ‘isca de ódio’ (rage-baiting), um tipo de conteúdo que visa provocar raiva visceral nas pessoas.
Um grupo crescente de criadores online
Zesu faz parte de um grupo cada vez maior de criadores online que produzem conteúdo com o objetivo de gerar ódio. Eles criam vídeos, memes e postagens que são projetados para provocar reações negativas. Com isso, eles alcançam milhares, até milhões de curtidas e compartilhamentos. O rage-baiting é diferente do clickbait, que usa manchetes para incentivar o leitor a clicar em um vídeo ou reportagem.
A manipulação das pessoas
A produtora de podcasts de marketing Andréa Jones explica que a isca de ódio é criada para manipular as pessoas, explorando os vieses da atenção e do aprendizado. ‘A atração exercida pelo conteúdo negativo sobre a psicologia humana está incrustada em nós’, afirma William Brady, que estuda as interações do cérebro com as novas tecnologias. ‘No passado, este era o tipo de conteúdo em que realmente precisávamos prestar atenção. Por isso, temos esses vieses embutidos na nossa atenção e no nosso aprendizado.’
O aumento do pagamento por conteúdo
O crescimento das iscas de ódio coincide com o aumento do pagamento por conteúdo, por parte das principais plataformas de redes sociais. Esses programas de criadores recompensam os usuários pelas curtidas, comentários e compartilhamentos. Eles permitem a postagem de conteúdo patrocinado e são considerados responsáveis pelo aumento do rage-baiting. ‘Se observarmos um gato, nós dizemos ‘oh, que bonito’ e rolamos a imagem. Mas, se virmos alguém fazendo algo obsceno, podemos comentar ‘isso é terrível”, explica Jones. ‘E o algoritmo considera este tipo de comentário como engajamento de melhor qualidade.’
A engrenagem do ódio
‘Quanto mais conteúdo um usuário criar, mais engajamento ele consegue e mais ele recebe’, afirma Jones, com ar preocupado. ‘Por isso, alguns criadores farão de tudo para conseguir mais visualizações, mesmo se for algo negativo ou se incitar a raiva e o ódio nas pessoas. Isso gera desvinculação.’ O conteúdo criado para gerar ódio pode vir de muitas formas, desde receitas de alimentos absurdos até ataques contra o seu astro pop favorito. Mas, em um ano de eleições em todo o mundo como 2024, a prática também se difundiu para a política, especialmente nos Estados Unidos.
A influência do algoritmo
O algoritmo das redes sociais considera o conteúdo que gera ódio como engajamento de melhor qualidade. Isso significa que os criadores de conteúdo que incentivam a raiva e o ódio podem receber mais visibilidade e mais dinheiro. ‘Quando as pessoas se sentem desconfortáveis, elas tendem a se afastar’, afirma Brady. ‘Mas, quando elas se sentem estimuladas, elas tendem a se aproximar. E é isso que as plataformas de redes sociais estão incentivando: a estimulação da raiva e do ódio.’
A responsabilidade das plataformas
As plataformas de redes sociais têm um papel importante na disseminação do conteúdo que gera ódio. Elas podem ajudar a reduzir a disseminação desse tipo de conteúdo, incentivando a criação de conteúdo mais positivo e construtivo. ‘As redes sociais têm a responsabilidade de criar um ambiente seguro e respeitoso para todos os usuários’, afirma Jones. ‘Eles podem fazer isso criando algoritmos que priorizem o conteúdo positivo e construtivo, em vez de incentivar a raiva e o ódio.’
Fonte: © G1 – Tecnologia
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