No modelo de escola integral, o dever de casa pode ser dispensável, mas enquanto isso não é realidade, é importante torná-lo prazeroso e explicado previamente em um ambiente adequado para o desenvolvimento da criança.
📝 Para muitos estudantes, o dever de casa é uma obrigação diária que pode ser vista como um sacrifício ou uma oportunidade de reforçar o aprendizado. Mas, afinal, qual é o verdadeiro papel do dever de casa na educação? Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que, em um modelo de educação ideal, como a escola integral, o dever de casa poderia ser minimizado, pois as crianças já passam um tempo considerável na instituição de ensino.
No entanto, na realidade atual, o dever de casa continua a ser uma ferramenta importante para o reforço da lição de casa e a preparação para as atividades escolares. Além disso, a responsabilidade de realizar tarefas em casa ajuda a desenvolver habilidades importantes, como a autodisciplina e a gestão do tempo. A prática regular também pode melhorar a compreensão e a retenção do material estudado, tornando o dever de casa uma parte valiosa do processo de aprendizado.
O Papel do Dever de Casa no Desenvolvimento da Criança
O conceito de dever de casa, que hoje é uma prática comum em muitas escolas, já era realizado pelos estudantes na própria escola. No entanto, como a escola integral ainda é uma realidade distante para a maioria dos estudantes, o dever de casa continua a ter uma relevância significativa e precisa atender a alguns critérios para alcançar seus objetivos. Segundo especialistas, os deveres de casa ideais devem ser projetados para:
* Não serem repetitivos;
* Estimular a criatividade e a curiosidade, em vez de apenas a decoreba;
* Desenvolver o raciocínio crítico;
* Ser previamente explicados em sala para que a criança possa realizá-los sozinha, com autonomia;
* Ser prazerosos;
* Não exigir um tempo longo demais para serem realizados;
* Ser feitos em um ambiente adequado, que dificulte a dispersão.
A lição de casa pode ser um instrumento valioso para o desenvolvimento da criança, mas a porcentagem de crianças que têm condições favoráveis para realizá-la é baixa, segundo o professor de psicologia educacional da Unicamp, Sergio Leite. ‘No ensino fundamental, em que a criança está desenvolvendo uma relação afetiva com a própria escola, a presença do adulto é extremamente necessária. Dificilmente uma criança sozinha dá conta de uma lição, mesmo que seja um reforço do que teve em sala de aula’, afirma o professor.
A Importância do Dever de Casa na Educação
Leite também destaca que não há consenso na literatura sobre o dever de casa, mas que geralmente os profissionais da rede pública são a favor da cobrança dessas tarefas. Isso porque a lição de casa possibilita desenvolver hábitos de estudo, responsabilidade, disciplina e aproxima as famílias da escola e do conteúdo pedagógico. Por outro lado, os professores que não valorizam tanto o dever de casa o fazem principalmente devido à diversidade socioeconômica do país. Como muitos pais não têm condições de ajudar os filhos nas atividades escolares, essas tarefas podem perpetuar a situação de injustiça.
A mestre em Educação e coordenadora pedagógica na Roda Educativa, Angela Luiz Lopes, defende que a lição de casa precisa ser discutida na reunião de pais e que os pais são responsáveis por oferecer apoio e garantir o espaço e materiais necessários para a realização da tarefa. Ela também destaca que antes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o currículo era muito mais pautado em conteúdo, mas que hoje ele favorece e apoia processos de desenvolvimento de competências e habilidades.
Revisando o Modelo de Dever de Casa
Lopes defende que não só o tipo de dever de casa precisa ser revisto, mas também os grupamentos na sala de aula, de forma a promover mais dinamismo. Por exemplo, não ter somente aluno sentado atrás de aluno, mas também atividades em grupos e em círculos. ‘Como que eu amadureço um conjunto de habilidades e ela se torna uma competência? A gente ainda está patinando muito em melhorar as práticas de sala de aula. Precisamos de práticas mais pautadas na resolução de problemas, no protagonismo dos estudantes em agrupamentos diversificados. E a atividade de casa é só mais um elemento nesse processo e precisa de alguma maneira ser uma extensão ou apoio ao que é feito em sala de aula’, afirma.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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