Conflito de interesses na venda de produtos financeiros de emissão acentuou perdas entre cotistas, afetando o fluxo de caixa e a política de investimento do gestor Midas, causando contágio.
No mercado financeiro, o Fiagro se tornou o centro das atenções dos investidores. Desde que a Agrogalaxy entrou com pedido de recuperação judicial, uma onda de incerteza tomou conta do setor, levando os investidores a reconsiderar suas estratégias de investimento.
Com a notícia da recuperação judicial da Agrogalaxy, muitos compradores começaram a questionar a solidez financeira do Fiagro, levando a uma corrida às vendas. A confiança dos investidores foi abalada e agora eles buscam informações mais detalhadas sobre a situação financeira da empresa. A cautela é a palavra-chave para os investidores que buscam minimizar seus riscos em um mercado cada vez mais volátil.
O Investidor e o Contágio Financeiro
É fascinante observar como problemas em um fundo ou grupo específico podem criar um efeito de contágio que se espalha rapidamente, afetando a imagem do setor como um todo. No entanto, minha impressão é que esse tipo de contágio não é tão comum quando se trata de produtos de emissão bancária, como CDBs, ou mesmo no caso de uma debênture em default. Talvez isso faça sentido, pois para a maioria dos investidores, o fundo de investimento é um produto complexo e difícil de entender.
A legislação exige a publicação de um amplo conjunto de informações, mas em geral, pouco disso é realmente avaliado. O processo de venda tende a se concentrar na rentabilidade passada e na qualificação do gestor, criando uma sensação de que o histórico é fruto de uma capacidade inconteste de bater o mercado. Quando se tem pouca informação e o suposto gestor Midas, que teria a habilidade de transformar qualquer coisa em elevados retornos, derrapa, nossa aversão à perda fala mais alto e o melhor parece ser vender logo para estancar a sangria ou evitar que o infortúnio nos atinja.
O Investidor e a Escolha do Produto
Como já escrevi aqui antes, não existe produto bom ou ruim. Tudo depende do investidor, dos seus objetivos, apetite a risco, fluxo de caixa e capacidade de entender aquilo que pretende comprar. Nunca, jamais, compre aquilo que não conhece. Fundos não são todos iguais. Cada um tem uma política de investimento e uma estrutura que pretende entregar uma relação de risco e retorno. Algumas são mais robustas e outras menos, a depender do apetite a risco do gestor.
Imagine que para cada operação ou ativo que compõe a carteira do fundo, o gestor tenha a alternativa de comprar um seguro para cobrir perdas. Se ele comprar seguros para proteger toda a carteira em sua totalidade, os prêmios pagos irão comprometer a rentabilidade. Portanto, arbitrar este trade off entre rentabilidade e risco é uma das principais responsabilidades da gestão de recursos.
O Investidor e o Fiagro
Meses atrás, quando os primeiros Fiagros foram lançados ao mercado, muitas pessoas me procuraram para perguntar se deveriam comprar. À época, muitos fundos estavam apontando rentabilidades elevadas e, naturalmente, assessores e gerentes de relacionamento estavam ‘empurrando’ o produto. Minha resposta foi: ‘leia com muita atenção, questione muito e só compre se entender’. Adicionalmente, como o produto era novo, comece comprando um pouquinho.
O apelo de venda do Fiagro era forte. Até o primeiro trimestre deste ano, o agronegócio estava bombando, embalado por supersafra e preços das commodities. O agro era o motor do PIB. Gestores viram ali uma oportunidade de capturar parte deste sucesso, enquanto distribuidores poderiam associar a imagem fortalecida do agro aos fundos e criar uma narrativa vencedora. Quem não gostaria de ganhar com o agro?
Fonte: @ Valor Invest Globo
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