Lua de mel de Lula com o mercado tem prazo de validade definido, com estágio probatório, política monetária e ciclos de altas e cortes.
Em 2025, Gabriel Galípolo assume a presidência do Banco Central (BC) após um período de “estágio-probatório” como diretor de política monetária. Esse período de transição foi fundamental para que ele pudesse se familiarizar com as responsabilidades do cargo e preparar-se para os desafios que viriam pela frente.
No entanto, será apenas em 2026 que Galípolo terá a oportunidade de colocar em prática suas ideias e políticas econômicas de forma independente. Como presidente do BC, ele terá que lidar com a pressão de manter a inflação sob controle e promover o crescimento econômico sustentável. A independência do BC é fundamental para que o presidente possa tomar decisões sem interferências políticas. Nesse sentido, o papel do diretor de política monetária é crucial para garantir que as decisões sejam baseadas em análises técnicas e não em interesses políticos. A expectativa é que Galípolo continue a trabalhar em estreita colaboração com o diretor de política monetária para garantir a estabilidade econômica do país.
Galípolo e a Independência do BC
Antes de sua sabatina com senadores, Galípolo havia negado qualquer pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde sua entrada no Banco Central (BC) em julho de 2023. E, de fato, as decisões tomadas por ele até então não permitiam maiores suspeitas. No entanto, houve um episódio isolado em maio, quando Galípolo e outros diretores do BC indicados por Lula divergiram dos colegas mais velhos de casa. Eles queriam um novo corte na taxa Selic de meio ponto, como nas seis vezes anteriores, mas prevaleceu uma redução menor, de 0,25 ponto.
O Ciclo de Cortes e a Unanimidade
Na reunião seguinte, após aparar as arestas, todos foram unânimes ao encerrar o ciclo de cortes aos 10,50% ao ano. No entanto, foi preciso mais que mera unanimidade para dirimir a suspeição de interferência de Lula. Galípolo foi bem-sucedido nessa missão, replicando a retórica conservadora do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Eles prepararam o terreno para um novo ciclo de altas, iniciado em agosto, ao ritmo de 0,25 ponto.
A Independência de Galípolo
Galípolo teve um advogado e tanto para lhe conferir verniz de independência: o próprio Lula. Pouco antes do ciclo de altas começar, o presidente avesso a juros desapareceu, reforçando que o problema era menos a política monetária em si, e mais quem comandava o BC. Disse que ‘quando tem que aumentar os juros, tem que aumentar’. O mercado leu como ‘carta branca’ para Galípolo agir.
O Desafio de Galípolo
Faltando dois anos das eleições presidenciais, ficou fácil baixar a poeira. Mas e sob o calor das urnas? Que Lula teremos? E como Galípolo reagirá a eventuais pressões, incluindo as do mercado? Vivemos tempos de alta temperatura, entre guerras e o calor literal de florestas queimando. Tudo pode mudar. Mas se o ambiente inflacionário em 2025 for aquele refletido hoje nos preços, terá sobrevida a lua de mel entre o Galípolo, Lula e mercado.
O Futuro da Política Monetária
A Selic seguirá subindo até meados do primeiro semestre do ano que vem – ao sabor de analistas locais mais pessimistas que os estrangeiros. Na segunda metade do ano, passa a cair de volta às proximidades de 10% ao ano – ao sabor do governo. E depois? Depois vem 2026. E esse arranjo matrimonial, digamos, pode ruir. Até mesmo governos bem-avaliados acabam caindo na tentação de convencer eleitores pelo bolso. Imagine só se, prestes a enfrentar o crivo popular, os níveis de aprovação de Lula forem medianos como são neste momento. Estranho seria, nesse cenário, não haver disposição para gastar mais.
A Pressão sobre Galípolo
Ainda no campo das suposições nada improváveis, não é muito difícil prever Gleisis e Lindberghs sendo escalados para pressionar por menos juros. Em paralelo, na falta de agenda fiscal razoável, a Faria Lima bateria o pé pedindo exatamente o contrário, novas altas da Selic. Quem Galípolo escolheria desagradar: governo ou mercado? Se continuar bebendo na fonte de Campos Neto, dá de ombros a pressões do governo. Mas e se o presidente do BC, diretor de política monetária, decidir seguir outro caminho?
Fonte: @ Valor Invest Globo
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