Clima-de-decepção em torno do pacote fiscal, que incluiu isenção-do-IR, mas falhou em criar senso-de-urgência para mudanças em despesa-discricionária e teto-de-gastos.
Com o pacote fiscal, o governo busca equilibrar suas contas públicas, mas o atraso em sua apresentação criou expectativas desrespeitadas no mercado financeiro, que agora exige medidas mais eficazes para sanar o problema fiscal. A demora e a insuficiência do pacote podem levar a um descredenciamento do governo frente ao mercado.
A insatisfação com o pacote fiscal não se restringe apenas à demora e ao impacto limitado; nenhum setor do mercado parece estar satisfeito com as medidas apresentadas. O mercado financeiro, em particular, sente que as ações do governo são insuficientes para atender às necessidades do país em termos de crescimento e estabilidade fiscal. O desconforto é geral.
Falta de senso de urgência
A reação do governo ao anunciar o pacote de medidas para o mercado foi tardia e desidratada, de acordo com Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management. Ela afirma que o governo demorou muito tempo para anunciar as medidas e, ao fazê-lo, incluiu a proposta de isenção do imposto de renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil, o que tirou o impacto do anunciado corte de R$ 70 bilhões e ‘queimou’ a pauta do aumento da isenção que todos conheciam – o que deveria ser discutido em outra ocasião.
Desancoragem da inflação
A economista afirma que a reação do Banco Central de elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual na última reunião de 2024 foi correta ao sinalizar que vai agir duro para controlar a desancoragem da inflação. Ela também destaca que o mercado estava ansioso para entender qual seria a regra fiscal e quando se faria na planilha para 2026, o que tornou difícil para o governo cumprir o limite do teto de gastos sem reduzir a despesa discricionária para zero.
Pacote insuficiente
O erro estratégico de incluir a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil acabou tirando o impacto do que seria a economia prometida, de R$ 70 bilhões em dois anos. Mesmo tirando a proposta de isenção de IR e criação de taxação dos super-ricos como compensação, o mercado achou as medidas insuficientes para salvar o arcabouço em 2025. Esses R$ 70 bilhões anunciados não correspondem a corte de despesas; no máximo a 60% delas.
Limitações do pacote
Havia expectativa de mudanças do seguro-desemprego, na redução de gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e no abono salarial para quem ganha até dois mínimos. Nada disso foi atendido e a demora ainda prossegue para aprovar o pacote no Congresso. A limitação do salário-mínimo ao teto de gastos foi na direção correta, mas tinha de ser num limite menor que 2,5%. A economia com a reforma da previdência dos militares foi baixa, apenas R$ 2 bilhões. O abono será reformulado de forma gradual, com impacto total em 2035, mas isso não é o suficiente para chegar vivos em 2026…
Fonte: @ NEO FEED
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