Estudos recentes revelam que pais não precisam estar em sintonia constante com seus filhos, afetando comportamento biocomportamental e atividade cerebral.
Estabelecer uma sincronia sólida com os pais é crucial para o crescimento harmonioso das crianças. Depois de anos de pesquisas, especialistas perceberam um elemento crucial neste processo: a sincronia entre o cérebro e o comportamento de pais e filhos durante as interações sociais.
À medida que se desenvolve, a sintonia pode ser alcançada através de variadas formas, como _sintonia biocomportamental_ ou _conexão_. E é por meio dessa sincronia que os seres humanos se conectam, compreendendo melhor as necessidades uns dos outros, tornando-se capazes de oferecer o suporte emocional adequado.
Sincronia Biocomportamental: Um Novo Enfoque
O processo de sincronia biocomportamental envolve a imitação de gestos, alinhamento de batimentos cardíacos e secreção de hormônios, como cortisol e ocitocina, resultando em uma sincronia cerebral que aumenta e diminui nas mesmas áreas, praticamente ao mesmo tempo, quando passamos algum tempo com outras pessoas. Nossa equipe realizou pesquisas que demonstraram que a sincronia entre os cérebros de pais e filhos pode ser útil para a conexão das crianças e tende a aumentar quando pais e filhos brincam, conversam ou resolvem problemas juntos. No entanto, recentemente, começamos a nos perguntar se realmente é sempre melhor ter maior sincronia.
A Sincronia: Uma Questão de Equilíbrio
Nossa pesquisa recente, publicada na revista Developmental Science, indica que, às vezes, uma sincronia excessiva pode ser um sinal de dificuldades no relacionamento. As orientações precisam ser atualizadas? Grande parte das orientações atuais oferecidas aos pais recomenda que eles permaneçam em constante sintonia com seus filhos, o que se baseia na teoria da conexão e em algumas pesquisas que demonstram que maior sensibilidade parental e funcionamento reflexivo são benéficos para o desenvolvimento das crianças e a formação de conexões seguras.
A Importância da Dança Social
No entanto, apesar das boas intenções, este conselho deixa de considerar diversos detalhes importantes. Pesquisas já indicaram que, em cerca de 50 a 70% do tempo, pais e filhos não estão ‘em sintonia’. Nesses momentos, eles podem estar fazendo atividades separadas, como explorar algo sozinho ou um dos pais está trabalhando, por exemplo. Pais e filhos costumam participar de uma ‘dança social’ constante, que compreende se sintonizar, sair de sintonia e reparar essa desconexão. E é este fluxo de conexão, desconexão e reconexão que oferece às crianças a combinação ideal de suporte e estresse moderado, que ajuda a fazer crescer o cérebro social delas.
A Sincronia e a Conexão: Um Equilíbrio Delicado
Os pesquisadores também concordam que pode haver consequências negativas para pais e filhos em sintonia constante entre si. Estes efeitos podem incluir, por exemplo, o aumento do estresse do relacionamento e do risco de conexão insegura das crianças. Isso ocorre especialmente quando os pais estimulam excessivamente seus filhos ou reagem de forma exagerada a cada necessidade das crianças. É por este motivo que, quando o assunto é a sincronia entre pais e filhos, aparentemente existe um ‘nível intermediário ideal’. Em outras palavras, mais sincronia pode não ser necessariamente melhor.
O Papel da Sincronia Cerebral na Conexão
Como parte de uma grande equipe internacional de pesquisadores de toda a Europa, decidimos investigar de que forma a sincronia biocomportamental entre pais e filhos está relacionada à conexão entre eles. Convidamos pares de pais e filhos para participar de uma série de tarefas que testavam a sua capacidade de se sincronizar e, ao mesmo tempo, explorar a conexão entre eles.
A Sincronia e o Comportamento: Uma Relação Complexa
Nossa pesquisa revelou que a sincronia biocomportamental entre pais e filhos está relacionada à conexão entre eles, mas também que a relação entre a sincronia e o comportamento é complexa. Ao examinar os dados, descobrimos que a sincronia excessiva pode ser um sinal de dificuldades no relacionamento, ao passo que uma sincronia inadequada pode levar a uma desconexão entre pais e filhos.
A Importância da Atividade Cerebral
A nossa pesquisa também mostrou que a atividade cerebral aumenta e diminui nas mesmas áreas, praticamente ao mesmo tempo, quando passamos algum tempo com outras pessoas. Isso sugere que a atividade cerebral está relacionada à sincronia biocomportamental entre pais e filhos, e que ela pode ser um indicador da qualidade da conexão entre eles.
A Sincronia e os Hormônios: Uma Relação Intrincada
Além disso, nossa pesquisa revelou que a secreção de hormônios, como cortisol e ocitocina, está relacionada à sincronia biocomportamental entre pais e filhos. Isso sugere que a sincronia biocomportamental pode ser um indicador da qualidade da conexão entre pais e filhos, e que ela pode ser influenciada pela secreção de hormônios.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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