Cid Pitombo reflete sobre alimentação, movimento e peso, discutindo como redes sociais desvirtuam o universo gastronômico e o prazer de comer, uma arte que envolve métodos de cozimento e órgãos sensoriais, afetando uma dinastia de indivíduos.
A gastronomia brasileira é um reflexo da diversidade cultural do país, e as redes sociais têm um papel importante nessa representação. A forma como as pessoas compartilham suas experiências culinárias e interagem com a comida tem mudado significativamente nos últimos anos. A busca por likes e seguidores pode levar as pessoas a criar uma imagem idealizada de sua gastronomia, muitas vezes focando em pratos sofisticados e apresentações visuais atraentes.
No entanto, é importante lembrar que a culinária é uma forma de expressão cultural e pessoal, e não apenas uma ferramenta para ganhar seguidores. A cozinha é um espaço onde as pessoas podem se conectar com suas raízes e tradições, e a alimentação é uma forma de nutrir o corpo e a alma. É fundamental encontrar um equilíbrio entre a apresentação visual e a autenticidade da experiência culinária, para que a gastronomia possa ser apreciada de forma genuína e significativa. A verdadeira beleza da comida está na sua simplicidade e autenticidade.
A Gastronomia: Um Universo de Sabores e Sensações
A gastronomia é um mundo mágico que tem sido uma fonte de inspiração para muitos ao longo dos séculos. Além de ser um cirurgião e pesquisador na área de obesidade, também sou um apreciador de bons restaurantes e da arte da culinária. A descoberta do fogo e dos métodos de cozimento permitiu que desfrutássemos de alimentos antes inimagináveis, tornando-os mais palatáveis, limpos e isentos de micróbios. Com o tempo, o homem desenvolveu uma variedade infinita de combinações e sabores, dando origem à arte da gastronomia.
A gastronomia é uma forma de arte que envolve a mistura de ingredientes, a criação de receitas e a busca pelo ponto perfeito, proporcionando sensações únicas aos nossos órgãos sensoriais. Não é à toa que alguns chefs são celebrados como grandes artistas. O amor das pessoas que se dedicam a essa causa envolve não só o cuidado com o restaurante, mas também uma verdadeira dinastia de indivíduos que trabalham em prol de uma arte que alimenta o corpo e a alma.
A Busca Pela Perfeição na Gastronomia
Um chef estrelado não busca apenas o fator financeiro, mas sim a sensação que vai despertar no cliente. Criar algo diferente e de extremo sabor denota muito tempo, provas, inovações e pesquisas. São caçados ingredientes locais, frescos e de sabor inigualáveis, e a cultura regional é frequentemente prestigiada. Avaliadores qualificados exploram secretamente esses ambientes e transformam um imenso trabalho de garimpagem em estrelas, como o famoso Guia Michelin.
Durante os últimos 20 anos, tive o prazer de conhecer e provar centenas de restaurantes ao redor do mundo, e posso dizer que a sensação é única em cada um deles. No entanto, um estranho movimento vem ganhando força na última década: a ideia de somente fotografar os pratos para postar nas redes, sem apreciá-los de fato. Não importam o sabor, o cheiro, a apreciação, o respeito. Importam a montagem, a luz, o nome do restaurante.
A Perda da Autenticidade na Gastronomia
A maior parte das mesas tem sido ocupadas por pessoas que buscam tirar fotos e compartilhá-las instantaneamente nas mídias sociais, marcando o local e divulgando seu status. Antigamente, reservar uma mesa num restaurante de alta gastronomia significava entrar numa lista de meses de espera. Hoje é questão de dias ou horas… O motivo? Muitos dos verdadeiros apreciadores dessas obras de arte se cansaram. Certa vez, estava almoçando em um famoso restaurante na Toscana e, em um momento de distração da atendente, um casal entrou, se sentou em uma das mesas e ficou fazendo fotos e poses ali. Ao perceber, a recepcionista foi até eles e perguntou se tinham reserva. Era óbvio que não. E eles foram embora mais felizes.
Fonte: @ Veja Abril
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