Investidores aguardavam ordem de aumento da tarifa sobre aço e alumínio importados, mas ainda não veio. Palavras do presidente americano perdem peso, mas instabilidade persiste. Bolsa brasileira segue instável. Fábula do menino e o lobo, ameaças vazias e mentiras. Credibilidade entre investidores afeta ações siderúrgicas brasileiras.
Em um ambiente de xadrez, a jogada de xeque-mate não é apenas uma vitória, mas também um sinal de que as ameaças são reais, e o adversário não tem como reagir. É uma jogada que marca o fim de um jogo, quando um jogador coloca em perigo a rainha ou o rei do adversário, sem deixar nenhuma saída possível. Nesse sentido, as ações de Donald Trump não passam de ameaças vazias, que podem não ter o mesmo efeito num jogo de xadrez, mas que fazem parte de uma estratégia mais ampla de manipulação e engano.
Na política, especialmente em um país como os Estados Unidos, onde a polarização é uma constante, as palavras têm poder, e a capacidade de manipular a opinião pública pode ser determinante. Porém, como é sabido em qualquer xadrez, xeque-mate não é apenas uma jogada, mas também uma estratégia de longo prazo.
Ameaças vazias de Trump: um tabuleiro de xadrez em xeque-mate
As semanas que se passaram desde a posse de Trump no Salão Oval não deixam de ser um verdadeiro jogo de xadrez. As suas ameaças, que inicialmente pareciam um jogo de força, agora começam a mostrar sinais de desgaste da sua credibilidade entre os investidores. A expectativa de um anúncio sobre a tarifação em 25% para todas as importações de aço e alumínio, em 10 de janeiro, não veio a se concretizar, o que levou as exportadoras de commodities a sustentar a alta do Ibovespa, o principal índice de ações do Brasil, que avançou 0,76% e atingiu 125.572 pontos.
A fábula do menino e o lobo, ameaças vazias e mentiras, parece ser o jogo de cartas que Trump está jogando. A incerteza é o que amarra as negociações e, considerando o histórico de Trump e a falta de notícias sobre a assinatura da ordem executiva, a maioria dos agentes no mercado financeiro fez o mais prudente: nada. O Ibovespa movimentou apenas R$ 12,8 bilhões hoje, 21,5% abaixo da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,3 bilhões – já no menor nível desde 2019.
Mas o fato é que as ações das metálicas, que correspondem ao peso de 13,8% do Ibovespa, brilharam nesta sessão, apesar de as ameaças de Trump poderem afetar as exportações brasileiras. Isso porque os EUA não são o principal consumidor do aço ou do minério de ferro do Brasil. A China e o próprio Brasil tomam esses lugares. Além disso, nem todas as siderúrgicas brasileiras seriam afetadas pela medida.
Mas o ponto central é que investidores estão dando xeque-mate nas falas de Trump – nem um mês do seu governo adentro. As medidas do republicano estão acendendo o alerta inflacionário nos EUA, mas as bolsas americanas refletiram maior apetite ao risco lá fora, o que pode ter ajudado a bolsa do Brasil hoje também. Das 87 ações que atualmente compõem o índice, 66 subiram.
Do lado de cá, o governo brasileiro também tem demonstrado cautela. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, disse que o Planalto vai aguardar a decisão de Trump sobre a taxação do aço exportado para os EUA. De acordo com as sinalizações, o governo brasileiro vai buscar o diálogo, recobrando a taxação do aço que já aconteceu antes, no primeiro governo Trump.
O clima morno das negociações se refletiu também no mercado de câmbio. O dólar comercial recuou 0,13%, a R$ 5,78. A cotação da moeda americana cedeu 0,9% no mês e 6,4% no acumulado do ano.
O Boletim Focus desta segunda trouxe algum amargor para as negociações de juros. A taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 saiu de 15,04% para 14,99% ao ano. Prêmios em contratos de curto prazo estão mais ligados às expectativas de inflação e, como tal, não foram afetados diretamente pelas ameaças de Trump.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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